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Entenda por que a Adobe provavelmente não tem razão em culpar a Apple

A novela do momento é a briga de comadres entre Apple e Adobe. Uma acusa a outra de querer se apropriar da internet, impondo seus próprios padrões fechados.

A última jogada foi da proprietária do Flash®, que desde ontem começou uma cara campanha publicitária nos principais meios de comunicação criticando duramente a Maçã.

Mas a Adobe tem memória seletiva e esquece que no passado era ela que fazia exatamente o que critica hoje na Apple. Conheça agora um pouco da história.


A Adobe, em sua nova campanha, acusa a Apple de querer limitar a internet, não dando espaço aos consumidores de escolherem as ferramentas e nem os computadores que quiserem. Usam o lema “We love choice” (nós amamos escolher).

Os consumidores devem poder ter acesso aos seus programas e suas aplicações preferidas, seja qual for seu computador e seu navegador favorito.

O discurso é lindo. Mas é vazio em argumentos quando analisamos a história.

No livro iCon Steve Jobs, Jeffrey Young e William Simon narram um acontecimento entre as duas empresas:

Quando Steve voltou à Apple em 1997, ele convidou os executivos da Adobe para ajudá-lo a criar uma versão do seu software de edição de vídeo para Mac. Mesmo que tenha sido Jobs e a Apple que colocaram a Adobe no mapa vinte anos antes, eles se recusaram a ajudar.

Como Steve Jobs destacou em sua carta aberta, foi ele quem ajudou a popularizar a Adobe em meados dos anos 80. Tempos depois, na sua volta à Apple, ele precisava de toda a ajuda possível para reerguer uma empresa que muitos davam como quase falida. A Adobe disse não.

Na época, ela tinha suas razões. O Mac era um mercado muito pequeno comparado ao do Windows e investir em usuários de uma plataforma menor não era economicamente rentável. O irônico é que, neste caso, ela não dava aos usuários de Mac a tão aclamada escolha que hoje prega, pois não desenvolvia todos os seus produtos para eles. Macusers na época não podiam “ter acesso aos seus programas e suas aplicações preferidas, seja qual fosse seu computador e seu navegador favorito“, culpa também da Adobe. Irônico, não?

Outro ponto importante: o atraso de uma versão mobile do Flash®.

Em 2007, quando o primeiro iPhone foi lançado, a Apple não pôde incluir a compatibilidade com Flash® no sistema porque não havia ainda versão dele para celulares. O Flash® Lite era ainda muito básico e ia contra o conceito que o iPhone queria impor, de internet completa.

Com o atraso da Adobe (que só apresentou uma versão mobile do Flash® em 2010, três anos depois), ela conseguiu provar a Steve Jobs que o iPhone não precisa da antiga aliada para fazer sucesso. Mesmo sem o Flash®, ele determinou padrões na internet móvel e ajudou a popularizar a conexão em celulares (a rede da AT&T que o diga). Agora não há mais sentido em incluir a tecnologia em uma plataforma que já está consolidada no mercado.

A Adobe perdeu o trem e agora, ao invés de correr atrás dele, quer tentar pará-lo. Não adianta querer colocar a Apple como vilã controladora, enquanto continua a estampar a marca de ® ao lado do Flash e dizer que é aberto. Ele é uma tecnologia tão aberta quanto o Microsoft Office.

Claro que quanto mais aberta a internet for, melhor para todos. Não que a Apple não seja controladora e manipuladora, se aproveitando do momento favorável a ela, mas a Adobe também não é nenhuma santa. O que acontece hoje é consequência de seus próprios atos, principalmente pelo fato de “ser preguiçosa” (como definiu Jobs) e ter demorado tanto para fazer evoluir sua tecnologia.

E nesse caso, não é uma campanha publicitária cara (que nem ao menos responde os argumentos apresentados por Steve Jobs) que fará ela se redimir de seus erros.

Enquanto isso, já circula pela internet a resposta bem humorada que a Apple daria à campanha da Adobe:

artigo baseado no ótimo texto do TechCrunch

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